᾿Ακούσας δὲ ὁ ᾿Ιησοῦς ὅτι ᾿Ιωάννης παρεδόθη, ἀνεχώρησεν εἰς τὴν Γαλιλαίαν, καὶ καταλιπὼν τὴν Ναζαρὲτ ἐλθὼν κατῴκησεν εἰς Καπερναοὺμ τὴν παραθαλασσίαν ἐν ὁρίοις Ζαβουλὼν καὶ Νεφθαλείμ, ἵνα πληρωθῇ τὸ ρηθὲν διὰ ῾Ησαΐου τοῦ προφήτου λέγοντος· γῆ Ζαβουλὼν καὶ γῆ Νεφθαλείμ, ὁδὸν θαλάσσης, πέραν τοῦ ᾿Ιορδάνου, Γαλιλαία τῶν ἐθνῶν, ὁ λαὸς ὁ καθήμενος ἐν σκότει εἶδε φῶς μέγα καὶ τοῖς καθημένοις ἐν χώρᾳ καὶ σκιᾷ θανάτου φῶς ἀνέτειλεν αὐτοῖς. ᾿Απὸ τότε ἤρξατο ὁ ᾿Ιησοῦς κηρύσσειν καὶ λέγειν· μετανοεῖτε· ἤγγικε γὰρ ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν. (Mt 4, 12-17)
O evangelista, relendo o profeta Isaías à luz da fé, interpreta a presença de NSJC como a "grande luz" (φῶς μέγα) que brilha nas trevas (ἐν σκότει). A presença de Cristo é taumaturgica, cura as feridas do corpo, indicando com isso uma cura superior, a cura da alma. Não me refiro aqui àquelas enfermidades tratadas por psicólogos e psiquiatras; do ponto de vista religioso eu as enquadraria no campo das enfermidades do corpo, pois muitas vezes são disturbios químicos do sistema nervoso, passíveis de serem tratados com medicamentos. Mas a "enfermidade da alma" não pode ser curada com psicotrópicos. A doença espiritual só pode ser tratada por algo espiritual, incorpóreo, sobrenatural. Um sinal claro dessa "doença", por exemplo, é a corrupção endemica que contamina todos os extratos de nossa sociedade. A corrupção é tão nefasta que além de corroer as instituições necessárias para o bom funcionamento das atividades civis, corroe também as nossas relações sociais, caracterizadas pela desconfiança e pelo medo do próximo, que hoje é sinônimo de "inimigo". A doença da alma é o pecado, que nos cega, ensurdece, paraliza e mata.
Neste contexto, ao contrário de anunciar profecias pessimistas, podemos colher a ocasião para verificar claramente como a Graça se manifesta na des-graça: em meio às trevas podemos ver como algumas pessoas se tornam verdadeiros candelabros que sustentam aquela Luz da Luz, que ilumina todo o homem. Aqui está, na minha opinião, a imagem mais bela do Cristão: "Χριστόφορος", isto é, portador da luz. O Cristão não deveria cuidar de outra coisa a não ser que essa "Luz" não se extinga. A faísca que acende essa Luz em nossa alma é designada no Novo Testamento com um verbo no imperativo: "μετανοεῖτε", isto é mudai o vosso modo de pensar! Se a frase citada acima ( μετανοεῖτε· ἤγγικε γὰρ ἡ βασιλεία τῶν οὐρανῶν) é a suma de toda a pregação de Jesus, o verbo da oração principal ( μετανοεῖτε) é a "suma da suma" da pregação evangélica.
Esta mudança de mentalidade (μετάνοια), está além do arrependimento, antes, o arrependimento é um efeito da μετάνοια, a revolução espiritual mais profunda que alguém pode experimentar. Na verdade a μετάνοια nos proporciona uma verdadeira libertação, nos concede a oportunidade de "nascer de novo", de destruir, pulverizar o que é velho e caduco dentro de nós, e assumir uma vida nova, não retoricamente falando, mas de fato. Uma das coisas mais belas da vida humana é essa possibilidade de mudar radicalmente a nossa situação interior, mesmo que estejamos limitados no espaço e no tempo: mesmo dentro de uma solitária, ninguém pode impedir essa Revolução em nosso micro-cosmo, comparável a um verdadeiro "Big Bang" espiritual. Do mesmo modo que "Deus disse: Faça-se a luz! E a luz foi feita" (Gn 1, 3), também a pregação de Cristo em nossa consciência pode suscitar a Luz onde reinavam as trevas, a cegueira, a morte espiritual. A μετάνοια, nesse sentido, pode ser considerada uma experiência concreta do Mistério Pascal.
Σήμερον, ἐὰν τῆς φωνῆς αὐτοῦ ἀκούσητε, μὴ σκληρύνητε τὰς καρδίας ὑμῶν! (Ps 94,8) A pregação de Jesus nos recorda dessa possibilidade, dessa Revolução, que é possível passar da região e da sombra sombra da morte (χώρᾳ καὶ σκιᾷ θανάτου) para a Luz da Vida. Mετανοεῖτε!
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